sexta-feira, 15 de maio de 2009

Ausência

Aos poucos acostumo-me com tua ausência. O silêncio do meu telefone já não me incomoda mais. A falta de mensagens não me faz mais perder o sono. Até mesmo o nosso menor contato no MSN não me traz mais desespero. Não há mais choro. Não há mais esperanças a alimentar.

Esta é uma sensação difícil de explicar. Deve ser o que chamam de inércia. Pode ser conformismo também. Ou pode ser tão somente a estafa de um coração cansado, a estafa de um sentimento que deteriorou depois de tanto empenho em se fazer ouvir, se fazer viver.

Meu amor por você foi uma luta. Das mais inglórias. Esperança e desespero caminharam juntos o tempo todo. O meu amor duelou e correu contra tudo. Enfrentou o medo de peito aberto. Não foi um amor orgulhoso em momento algum! Suportou o quanto pôde as poucas notícias, a tamanha distância que nos separa. Dispôs-se a, mais uma vez, amar o diferente e mostrar que isso é plenamente possível.

Amar é foda. E por isso mesmo as pessoas mostram ter cada vez mais medo de encara-lo. Ao que me parece, amar é... sinônimo de medo. Medo da rejeição, medo da entrega, medo de não se sentir merecedor de tão sublime sentimento...

... e o medo tomou conta de você. Tomou conta de mim. Eu nunca tive medo, nunca tive medo de amar mesmo. Sempre mostrei os meus sentimentos. Claro que, assim, tomei muitos foras. Muitas vezes sofri, muitas vezes chorei. E os motivos dos ‘fracassos’ eram os mais diversos...

‘Ah, sai daqui! Você é muito feio...’
‘O problema não é contigo mas não quero nada com ninguém, entende?’
‘Você não é um cara “descartável”, é especial pra mim’

Claro que não sou descartável, Baby. Sou descartado. Feito um jogador reserva de um time de futebol, em lista de dispensas no final do ano. Fui descartado, possivelmente, por uma soma de fatores que, sozinhos, já se fazem suficientes para um fora. Mas tinha que haver um requinte de crueldade. E você foi cruel.

Fria. Dissimulada. Indiferente.

Eu sei que o seu silêncio é uma forma de se defender, uma maneira de escapar da realidade que você não quer viver. Mas, com este silêncio, fui corroído dia após dia, noite após noite. Achei que não existiria mais paz! A esperança da noite anterior era puro desespero no dia seguinte.

As dores e dúvidas estavam no auge. E parecia que eu não suportaria mais, explodiria a qualquer momento. Era muito choro, muito suor, os pensamentos zunindo feito vespas dentro de minha cabeça. E então aconteceu.

O ápice da dor começava a passar. E eu ainda estava vivo!

Aos poucos os pensamentos foram serenando. As lágrimas começavam a secar naturalmente. Aquela tremenda sensação de descontrole, de solidão, dava lugar a algo como se fosse serenidade. De repente, senti que mais nada de ruim iria acontecer e que eu poderia me acalmar. Deve ser algo como tomar algum calmante direto na veia, sei lá.
Minha vida aos poucos retorna ao normal, às preocupações e ao estresse do trabalho. Retorna também o prazer de sair de casa, de ver pessoas (apenas as observo, de longe) e de fazer coisas que eu adoraria fazer na sua compania e que, agora, vejo que faço muito melhor em minha própria compania.

Você foi um sonho bom que consegui tornar o pior de meus pesadelos. Mas agora tudo está passando, aos poucos retorno à minha serenidade e essência. Meu amor sou eu. Minha prioridade sou eu. E o que eu tenho de melhor apenas eu mereço.

É bom poder olhar para a frente e dizer com toda a convicção...

... eu não te amo mais...

sábado, 2 de maio de 2009

A solidão do espectador que percorreu longas distâncias

Era noite de terça-feira, 28 de abril. Aproximadamente 21:00hs. A sessão estava prevista para começar às 21:10hs. e o espectador, depois de um dia estressante de trabalho, tomava a última providência antes de adentrar o cinema - garantir o refrigerante e a pipoca.

Precavido, o espectador comprou seu ingresso antecipadamente em uma máquina de auto-atendimento da rede de cinemas. Afinal de contas, não queria passar pelo transtorno de pegar longas filas e ter que chegar ainda mais cedo ao shopping para garantir o seu lugar na sessão. O filme em questão era o 'Flight 666', documentário que registra momentos do Iron Maiden durante a turnê 'Somewhere Back In Time". Além de imagens de camarins, hotéis e viagens a bordo do 'Ed Force One', o filme mostra a passagem da banda por países que não recebem shows de Heavy Metal - Índia, Papua Nova Guiné, Costa Rica, Colômbia e Chile - sejam pela total falta de interesse dos empresários e promotores de eventos, seja por instabilidades sociais e/ou políticas.

Pois bem, aproximadamente 21:00hs. O espectador, com pipoca, refrigerante, ingresso em mãos e toda a ansiedade que um fã fervoroso de Iron Maiden pode estampar em seu rosto, pela oportunidade única (afinal, o filme sairia de cartaz no dia seguinte, segundo o site da rede de cinemas). Ao chegar a funcionária confere o ingresso, franze a testa em sinal alarmante e decreta:

- Olha, este filme não está mais em cartaz aqui...

O espectador, que ainda tirava os seus fones de ouvido, calmamente pergunta:

- Como é que é?!
- É, este filme não está mais em cartaz aqui
- Mas este ingresso foi comprado antecipadamente no sábado, e, antes de comprá-lo, fui ao site me certificar e lá consta que este filme deve estar em cartaz até amanhã!
- Só um momento, por favor...

A funcionária chama pelo rádio um outro funcionário do cinema, que possa resolver a situação do espectador. Os argumentos dele tiraram dela qualquer chance de contraargumentar (é assim que se escreve???). Aliás, ainda que o espectador não tivesse arguementação alguma, ela passava a nítida impressão de que não argumentaria nada, tampouco resolveria o seu problema...

Então, chega o outro funcionário... que faz exatamente tudo que a primeira fez. Olha, confere, vê a data, o valor pago e diz ao espectador:

- Aguarde um instante, vou chamar o gerente
- ...

Ele também faz uso do rádio e não consegue encontrar o gerente... ainda haveria gerente àquela hora? Minutos passaram e ainda bem que o espectador trouxe a comida porque a irritação e o desejo odioso de ter o seu dinheiro de volta fizeram com que ele começasse a comer ali mesmo. Quando ele estava pronto a estourar e fazer O Barraco, eis que o funcionário chega e lhe diz:

- Me acompanhe, o filme começará agora
- ...

As reticências, agora, eram de profunda surpresa e alegria. Pensava, ainda atônito: 'Um filme... do Maiden... só pra mim... caralhooooooooooo!'. Era difícil de acreditar: não demoraram tanto pra resolver a situação e abriram uma sala só ao espectador de longas distâncias para que pudesse extasiar-se em um momento único!

Porém, só acreditou mesmo em tudo aquilo quando vieram os primeiros acordes de 'Aces High' no primeiro show da turnê em Mumbai, na Índia. Dali em diante foram duas horas de uma alegria, de um sentimento difícil de descrever em meras palavras, um presente dos deuses a um pobre e simples mortal. Algo semelhante ao que sentiu no dia 15 de março, quando a banda esteve em São Paulo e ele estava lá, testemunhando um momento único e passando por um ritual que todo fã de heavy metal deve passar.

Parecia sonho mas a realidade daquele momento era doce e saborosa. Naquele momento o espectador de longas distâncias sentia um przer egoísta, que não queria dividir com ninguém. Aliás, pra que alguém???

A sessão terminou por volta das 23:15hs,. O shopping já havia fechado e o espectador teria uma longa viagem pela frente para voltar para casa... mas a alma estava lavada, o coração estava sereno e calmo como há muito tempo não estava.

Ao menos, um sonho no cinema havia tornado-se realidade.